Angela Muryn cursou a Faculdade de Desenho e Plástica e Licenciatura Plena na Universidade de Passo Fundo/UPF/RS (1982/1985). Mudou-se para Joinville/SC em 1986, onde iniciou como Professora de Artes na Rede Estadual de Educação entre 1986 a 2010. Fez Pós-Graduação em 2002, atuou como Professora no Programa Atelier de Artes na Rede Municipal de Educação em Joinville/SC de 2000 a 2021.
Em 1998 iniciou nos cursos de Cerâmica, História da Arte e Desenho da Casa da Cultura Fausto Rocha Júnio/Joinville-SC e em 2010 tornou-se professora noCurso de Cerâmica. Atuou no Programa de Extensão Comunitária e a Formação Continuada pelo Programa Arte na Escola da Casa da Cultura. Em 2013 trabalhou junto à Gerência de Incentivo e Difusão Cultural e Patrimônio Cultural (2013/2016).
Participou de várias exposições coletivas na área de Cerâmica Artística durante o período Acadêmico e na Casa da Cultura, tanto como aluna e depois como professora. Fez cursos na Espanha/ La Bisbal de Empodá, em São Paulo e em Curitiba.
Ministrou curso para a Design da linha Carolina Haveroth em queima em Rakú e fez uma parceria com uma Arquiteta em Joinville que está lançando uma linha em Cerâmica em seu site. Tem se dedicado à pesquisa em formulação de esmaltes cerâmicos, prática de torno e trabalhado numa produção individual, na cerâmica utilitária e artística.
Ministra cursos de Queima em Rakú, cerâmica utilitária e vidrados cerâmicos, também dá assessoria e consultoria para pessoas que tem interesse neste mercado. Está lançando sua Marca/Identidade visual e trabalhando num projeto de uma exposição individual em várias linhas da Cerâmica.

Como você iniciou na cerâmica, quando foi que a arte do fogo entrou na sua vida?
Meu primeiro contato com a cerâmica foi na Faculdade de Desenho e Plástica na Universidade de Passo Fundo/RS em 1982, onde tive a disciplina de cerâmica e que além de modelar, formulávamos os próprios esmaltes. Nossa Professora Rosa Coutinho, tinha recém chegado da Espanha de uma residência em Cerâmica, então nos passou a mágica e alquimia da formulação dos vidrados na cerâmica. Nossa modelagem era manual e fazíamos muitos testes em esmaltes. Creio que foi desde esta época que tenho essa paixão pela cerâmica.
Você é Professora de Cerâmica da Casa da Cultura de Joinville, na Escola de Artes Fritz Alt, também da aula em seu ateliê particular. As aulas estão acontecendo através de plataforma online. Conte como estão sendo as aulas, e também o que a cerâmica pode nos ensinar neste momento.
Sou professora de Cerâmica da Casa da Cultura desde 2010. No momento não estou dando aulas presenciais no meu pequeno espaço que montei em São Francisco do Sul, pelas questões do agravamento da contaminação do Covid-19. Na Casa da Cultura continuamos as aulas de forma online e os alunos desde o ano passado me surpreenderam com as peças que criaram, modelaram e esmaltaram, mesmo de forma individual em seus próprios espaços, muitas vezes improvisados. Todos os alunos evoluíram muito na questão de aprendizado em relação à cerâmica, pois precisaram se dedicar mais aos estudos e as pesquisas, isso colaborou para que todos conseguissem até uma independência maior na questão de criação.
Hoje as redes sociais facilitam muito para esse aprendizado, e acredito que os meus alunos de cerâmica se superaram, pois os resultados foram lindos. Neste momento acredito que a cerâmica pode ajudar as pessoas a se manterem ocupadas mentalmente e fisicamente, pois a arte funciona também como uma válvula de escape para que as pessoas se conectem de forma positiva com algo bom, como os pensamentos. Acredito que ela diminui a ansiedade e que ajuda as pessoas a não se sentirem tão confinadas.
A cerâmica também tem uma questão da qual nos ensina como lidar com a aceitação e o desapego e neste momento é bem propício para fazermos tal reflexão. A aceitação porque como é a arte do fogo temos controle dela até ir para a queima, com o calor da atmosfera no forno, o que acontece lá dentro nem sempre é o que esperamos, às vezes as peças podem rachar ou as cores não saírem como queríamos e isso não está no nosso controle, e a questão do desapego porque muitas vezes precisamos despegar mesmo de muitas coisas, começar de novo ou até muitas vezes descartar. Na cerâmica temos a possibilidade de tornar uma peça que quebrou em outra peça, isso tem muito haver conosco, por que estamos sempre nos reinventando até com os próprios cacos que a vida nos oferece.

Poderia explicar como é o seu processo criativo? Você atua na cerâmica artística e também trabalha com utilitários, que são estilos diferentes e que atingem públicos distintos. Fale um pouco sobre cada um desses teus processos. (Para a cerâmica artística, você desenha um projeto, ou faz sem muito planejamento?). E para a cerâmica de utilitários, você usa moldes ou torno?
Cada vez que preciso criar algo, faço um planejamento e um cronograma de todo o processo cerâmico para dar um prazo aproximado para o cliente, ás vezes esse prazo pode se estender um pouco por que pode acontecer alguns fatores que dependem do processo da cerâmica.
Faço um briefing com o cliente para descobrir o que ele deseja em relação à peça que ele imagina ter em casa ou no seu negócio. Faço alguns desenhos das peças, com as formas e sugiro cores e argilas, apresento o projeto para o cliente e se gostar, inicio o trabalho.Isso vale para as peças modeladas à mão: artísticas e decorativas e peças em queima em Rakú (uma técnica de queima milenar japonesa)da qual todas saem de maneira exclusiva. Nos utilitários é o mesmo processo, também tenho um mostruário de peças onde apresento para o cliente. E se o cliente preferir personalizar as peças, sempre considerando a funcionalidade, a praticidade, qualidade e beleza do objeto. Também tenho algumas peças de pronta entrega, onde posto no meu Instagram. Sobre as técnicas de modelagem, dependendo da peça, faço manualmente a modelagem, algumas no torno e algumas no molde tudo dependem da forma que a peça precisa ter.
As louças artesanais em cerâmica ganham as mesas dos principais chefs e restaurantes, elas fazem com que estes objetos sejam utilitários e também artísticos. Você também assina louças de alguns espaços gastronômicos, conte como funciona essa área da cerâmica. Parece ser lucrativa.
Fiz algumas peças para uma Cafeteria que iria inaugurar em 2020. Também assinei peças para uma Arquiteta, da qual está construindo um site e estamos trabalhando em parceria. Um restaurante a Beira Mar com o Chef do Restaurante. Por conta do Covid-19, alguns estabelecimentos precisaram fechar ou diminuir custos e isso impactou também nas encomendas, que estão bem tímidas, mas com grande potencial de aumentar o mercado nesta área. Peças exclusivas e assinadas sempre têm encomendas.
O mercado está valorizando mais a cerâmica no Brasil hoje. Temos um material que é durável, bonito, prático, funcional e que aguenta altas temperaturas, então as pessoas sabem que uma peça em cerâmica é exclusiva, dá muito mais sofisticação, beleza e elegância para o lugar, seja na sua casa ou seja no seu negócio.

A cerâmica é uma arte muito ampla, com muitas técnicas e estilos. Quais são as técnicas da cerâmica que você mais utiliza no teu trabalho como artista? O que você mais ama no processo da cerâmica?
Para peças exclusivas, uso muito a modelagem manual e muitas vezes na técnica de queima em Rakú, como já expliquei, é uma técnica de queima milenar japonesa, onde se tira a peça do forno incandescendo à 1000 aproximadamente. É onde acontece uma reação química, entre vidrados cerâmicos, óxidos e a atmosfera do ar e o calor. Outras peças como utilitários, uso o torno e moldes de madeira ou gesso.
O processo cerâmico me encanta em todos os sentidos nas reações químicas dos vidrados e o a atmosfera do fogo, nas argilas que a natureza nos dá que é a matéria prima mais importante da cerâmica e que se deixa ser modelada e que ao mesmo tempo nos permite exercitar a paciência por que não é no nosso tempo e sim o tempo da matéria e além de tudo isso, o respeito que precisamos tem com ela, caso contrário nos surpreende com trincas, rachaduras ou quebras antes ou após a queima.
Na verdade a arte cerâmica é uma união dos quatros elementos da natureza e nela se fecha um ciclo quando a concluímos, a água e a terra que forma a argila, o ar que é necessário para que o fogo mantenha a atmosfera de calor da qual essa matéria precisa para se tornar cerâmica.
Modelagem no torno com esmaltação em baixa temperatura Modelagem no torno e esmaltação em alta temperatura
Você já participou de exposições, sempre apresentando trabalhos conceituais, trazendo questões íntimas, provocando reflexões no público. Está produzindo algum projeto solo? Podemos esperar alguma exposição individual?
Participei de exposições coletivas, durante o curso de Cerâmica e exposições na época da Faculdade, ainda não fiz nenhuma individual por estar mais focada nas encomendas. Mas tenho um projeto que já iniciei com peças artísticas e também sobre o universo feminino, este projeto foi interrompido com a pandemia, mas tenho a intenção de colocar ele em prática assim que as coisas voltarem ao normal.
Em outras ocasiões em exposição no Shopping Garten e depois na Galeria Municipal Victor Kursancew participei com a Obra Sementes que provocava o expectador a pensar e refletir sobre a dor da perda de um filho ainda no útero e esse sentimento que muitas mulheres passam na sua vida e sobre o aborto seja ele espontâneo ou uma questão de escolha ou não. Na época tive um feedback dos expectadores bem importante, pois algumas se identificaram com a obra e até se emocionaram.

Quais são os mestres da arte cerâmica que você admira, ou se inspira, cite alguns. E em Joinville, existe alguma referência?
São muitos, Picasso foi um grande ceramista, além de suas obras em Pintura, a cerâmica do seu acervo é uma referência. Eva Zeisel, uma ceramista Húngara, e as suas formas do mundo natural e das relações humana.
Rosana Bortolin: um artista que tem um conceito sobre o sagrado profano, na cerâmica artística, do qual ela provoca questões femininas e tem um trabalho incomum em relação ao casa/corpo/ninho. Kimi Ni, que trabalha também formas orgânicas em forno a gás e vidrados maravilhosos que ela mesma produz e o que me encanta nestas ceramistas é que iniciaram na cerâmica na maturidade, isso faz também com que eu me identifique muito com elas.
Hideko Homma: uma ceramista que também admiro pelas formas que trabalha e pela serenidade e paciência em relação ao tempo da cerâmica e da qual reflete no nosso fazer artístico.
Enfim existem muitos ceramistas que admiro e sigo, muitos colegas que fazem da Cerâmica sua vida, alguns dos quais estudamos juntos e também contribuíram para me passar essa paixão por esta arte.
e-mail: angelamuryn@gmail.com