Natural de Ribeirão Vermelho – MG, Raul Cesar de Almeida reside em Joinville, SC há 19 anos, atua nas áreas de Criação Gráfica, Produtos, Decoração e desenho Técnico Industrial.
Autodidata, tem como principal ponto de partida para suas criações artísticas, o estudo de paisagens mesclando Realismo, Impressionismo e Abstrato.
Ainda na infância começou a se aventurar nas artes, tendo como exemplo e incentivo os grandes mestres da arte renascentista. Como diretor de arte, atuou em agências de publicidade nos estados de Santa Catarina e Rio de Janeiro.Também atuou como projetista de mecânica e Tubulação Mecânica nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina. Experiências técnicas que segundo o artista colaboram expressivamente em seu trabalho artístico. Cursou Engenharia Mecânica na cidade de Joinville SC.
Participou de exposições no Rio de Janeiro e Santa Catarina. A última, intitulada NATURAL, que aconteceu em Dezembro de 2019 no Garten Shopping em Joinville SC. com a curadoria do produtor cultural Luciano Itaqui, o artista reuniu obras com mais de 35 anos, entre elas três telas expostas pelo Instituto Binot Paulmier de Gonneville – Honfleur França, 2004 Panorama Cultural São Francisco do Sul 500 anos, promovida pela Vega do Sul no Museu do Mar sob a
curadoria de Marina Mosimann.
Por se tratar de um trabalho único; o artista preza pela autenticidade e se preocupa em expor e divulgar seus trabalhos como de autoria própria. por essa razão Raul Cesar dedica boa parte de seu tempo à criação, pesquisa de campo, e fotografia de paisagens. como seu tempo é bastante reduzido para se dedicar exclusivamente à pintura, sua produção artística é de duas a três telas por ano.
Como você entrou no mundo da arte?
Ainda na infância comecei a me aventurar nas artes tendo como exemplo os grandes mestres da renascença, passava horas na biblioteca da escola admirando suas histórias e suas obras.
Como toda criança, passava boa parte do tempo com meus lápis de cor desenhando e experimentando formas de me expressar, aos sete anos de idade eu já fazia misturas utilizando cores variadas de terra na tentativa de conseguir uma tinta a base de água, já que naquela época com todas as dificuldades, era quase impossível ter acesso a materiais de
pintura mais sofisticados.
Fale um pouco sobre seu processo criativo, suas inspirações até a concretização de suas
obras.
Produzir algo inédito e original é muito difícil então procuro focar na busca de novas formas de representação mais na parte técnica e na escolha do tema, o melhor ângulo, a melhor luz, a melhor pose quando desejo retratar um ser humano por ex. Meu processo criativo ocorre nos momentos mais improváveis, por isso eu sempre anoto tudo pra não deixar escapar nada. Seja andando de bicicleta, cozinhando, assistindo vídeos, mas o campeão da criatividade é sem
dúvidas quando estou no banho.
Desde quando você está morando em Santa Catarina? Conte-nos um pouco sobre sua vinda para cá.
Cheguei a Santa Catarina em 2002 para trabalhar no projeto de construção da Vega do Sul em São Francisco do Sul. Eu fazia parte da equipe de projetos de tubulação, desde então fui me encantando com as belezas da região e quando a obra se deu por concluída, resolvi ficar e lá se foram 20 anos.
Em Natural, individual apresentada na Galeria de Arte do Garten Shopping em dezembro de 2019, a obra “O Seminarista”, encantou o público, tamanha beleza e realismo da obra. Também trouxe questionamentos, por ser a única com tema diferente, já que todas as outras eram paisagens. Pode falar um pouco sobre esta obra?
O seminarista é um daqueles capítulos surpresa que caem de paraquedas de repente, e mesmo que se quisesse omitir, não teria como, devida sua beleza e poesia envolvidas. Imagine o ano de 2004, voltando da cozinha após um copo d’água na madrugada, numa noite fria em pleno mês de julho e de repente você se depara com uma cena que para muitos só poderia ocorrer no cinema com aqueles cenários bem elaborados, iluminação perfeita, a pose perfeita,
o protagonista perfeito. Uma cena que poderia facilmente ser confundida com uma miragem ou algum tipo de alucinação. Mas não! Era real e tinha que ser imortalizada em forma de arte.
Uma folha em branco e lápis era tudo de que me dispunha naquele momento. Comecei a desenhar rapidamente aquela visão com receio de que se movesse e saísse da posição, porque mesmo encolhido de frio e naquele sono profundo, era a pose perfeita… Em 2018 organizando alguns livros, encontrei esse desenho já com cheiro e sinais de mofo, após todos esses anos percebi que era algo muito bonito pra ficar escondido e resolvi pintar uma tela em tamanho quase real. Embora na época eu o considerasse inacabado, esse quadro foi mostrado pela primeira vez em Dezembro de 2019, na exposição “Natural“ no Garten Shopping Joinville SC.
Recentemente um admirador da cidade de Bonston, nos Estados Unidos, encomendou uma obra sua, retratando a “Baía de Hingham em Masachusetts” após conhecer seu trabalho através das redes sociais, como você define a importância desse tipo de mídia nos dias atuais?
As dificuldades de ser artista em um país como Brasil já seria por si só o maior obstáculo enfrentado pra quem é artista e precisa viver de arte nesse país. Os incentivos praticamente não existem e com leis cada vez mais predatórias que dificultam o acesso à cultura, ao conhecimento, ao desenvolvimento social e a sobrevivência de quem depende da arte, eu digo que as mídias são e continuarão sendo a melhor forma de divulgação para quem “faz arte” e para quem trabalha com a arte.
Em sua opinião, como anda o mercado de artes plásticas no Brasil? Falando sobre este momento de pandemia de Covid-19. Como você vê o crescimento das galerias virtuais, que hoje estão cada vez mais fortalecidas devido o atual momento.
O mercado de artes no Brasil ainda é bastante restrito, mesmo com galerias virtuais, ainda se dá muita ênfase a nomes já consolidados no mercado de arte, dificultando a evidência de novos artistas no cenário nacional, mas acredito que tem arte autêntica nas ruas com artistas fazendo grandes trabalhos nos muros das grandes cidades, são trabalhos inacreditáveis, tamanha a qualidade e beleza. A arte de rua é pra mim uma das representações mais autênticas. Quando se pensa na produção artística como fator gerador de dinheiro, mata-se a paixão, a emoção, a qualidade e a autenticidade. Mata-se a verdadeira arte. Com a pandemia as galerias virtuais tornaram-se mais evidentes, Acredito que vieram pra ficar, acho que são de extrema importância. Tudo é absolutamente válido quando se trata de
divulgar Arte, Cultura e Conhecimento.
Quais os artistas que exercem maior influência na sua arte e porque a preferência por natureza?
Sou clássico por natureza em quase tudo! Todas as minhas escolhas são e sempre serão baseadas no clássico, isso inclui música, cinema, teatro etc… Quando estou pintando costumo ouvir Chopin e Bach, isso não descarta o Rock. Na pintura continuo aprendendo muito com Leonardo da Vinci, Caravaggio, Vermeer, Artemisia, Elisabeth Vigé. Amo a arte de Juarez Machado e Ismael Nery. Benedito Luizi, pintor mineiro de paisagens de quem tive a honra de receber dicas de pintura e um de seus maravilhosos trabalhos pintado em 1985.
Como está seu processo criativo neste momento de distanciamento, podemos esperar alguma novidade no seu trabalho? Quais teus próximos projetos?
Nada mudou em meu processo criativo por conta do distanciamento, costumo dizer que eu já era distante antes de tudo isso. Quase sempre é preciso estar imerso nas loucuras e devaneios pra se extrair a essência da obra em questão e pra isso é necessário o distanciamento em boa parte de todo o processo… Sim estou trabalhando em novas ideias e novos projetos.
Fale sobre o seu trabalho de restauração de obras de arte.
Desde criança eu tenho essa mania de tentar recuperar tudo o que via pela frente e que não estivesse de acordo, amigos ou parentes sempre me pediam para consertar isso ou aquilo e como eu já desenhava e pintava, comecei a restaurar fotografias antigas e consequentemente pinturas quando aparecia alguma. Restaurar uma pintura é sem duvida um enorme aprendizado, é como uma volta ao passado e inevitavelmente se estabelece uma conexão muito íntima com o artista em questão, surgem questionamentos do tipo: oque ele ou ela estaria pensando no momento que fez essa pincelada? Seus medos, seus anseios, suas reflexões.
Tudo ali impressos naquele trabalho, desde fios de cabelos até impressões digitais desses artistas, tudo isso e muito mais é possível de se encontrar nessas telas em meio as infindáveis camadas de tintas craqueladas e envelhecidas pelo tempo. Em minha mente, a situação é tão complexa e invasiva que no momento em que começo a recompor a pintura, eu chego a imaginar um pedido de licença ou até mesmo uma permissão em sinal de profundo respeito por estar tocando e de certa forma alterando aquela obra, mesmo que seja para trazê-la à sua glória original.
Atualmente tenho feito reintegração de pigmentos em telas de artistas históricos e de grande projeção internacional como por exemplo: Josep Maria Bosch, Pintor Espanhol que viveu em Barcelona entre 1871 à 1951. Franz Xavier Pieller, Viena, viveu entre 1879 à 1952. Eugênio Latour, Rio de Janeiro RJ. Viveu entre 1874 à 1942. O Catarinense Eugênio Colin, Joinville. Viveu entre 1916 à 2005. Entre outros…
Fique a vontade para falar o que quiser.
Sei que a esperança é a última que morre mas mesmo assim, ainda sonho com um Brasil mais
humano, um Brasil melhor do que se tem visto nos últimos 2 anos.
Confira neste link https://www.youtube.com/watch?v=COAZAkPKQZ4 teaser da exposição Natural realizada em dezembro de 2019, na Galeria de Arte do Garten Shopping.