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“UM DIA, UM OLHAR…”, do artista Décio Soncini no Museu MESC – UDESC

Com 39 pinturas, a exposição “Um dia, um olhar…”, do artista visual Décio Soncini, propõe o resultado plástico de caminhadas reais e virtuais pela memória, numa variedade de temas desde o familiar até paisagens desfrutadas no dia a dia, pintadas desde pequenos formatos até grandes telas.

Artista com extenso currículo, sua obra transita entre o visto e o imaginado, como um diálogo aberto aos observadores, tal como um registro de um romântico em que nada existe por acaso na vida e na fantasia.Embora o artista já possua mais de 50 anos de carreira, a exposição será a estreia individual do artista em Florianópolis e conta com a curadoria do crítico de arte Walter de Queiroz Guerreiro.

Na seleção, que será apresentada ao público, o artista visual faz um apanhado da sua produção nos últimos doze anos, com uma técnica própria na representação figurativa, trabalhando referências do cotidiano com linguagem extremamente pessoal, sempre desafiando o “como fazer” e buscando soluções pessoais para questões que envolvem forma, espaço, cor, luz e ritmo.

A exposição acontecerá entre os dias 2 e 29 de agosto no Museu da Escola Catarinense | MESC-UDESC.Soncini nasceu em São Paulo em 1953, licenciou-se em desenho e plástica e bacharelou-se em gravura na Escola de Belas Artes de São Paulo em 1973. Desde então, tem participado de diversos salões, exposições individuais e coletivas em diversas cidades brasileiras e algumas no exterior.

Sua exposição individual de estreia, em São Paulo, em 1975, foi uma mostra de paisagens. Neste mesmo período, anos 70, foi integrante do grupo “Guaianazes” que, segundo o crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, tinha além de uma preocupação comum de domínio do fazer artístico “… o escopo definido pela figuração persistente, pela matriz expressionista e pelo alto coeficiente de catarse…”. Sua pintura, então, como consequência, passou a ter um caráter mais expressionista e este continuou a ser seu caminho na década seguinte, os anos 80, com uma sequência de exposições individuais e coletivas, culminando com uma grande exposição dos “Guaianazes” no MAM de São Paulo em 1989.

Na década de 90, Soncini retorna a pintar paisagens, dando início à proposta batizada pelo crítico Walter de Queiroz Guerreiro de “O olhar circunvagante”, partindo do princípio de que, conhecendo a sua aldeia, você entenderia melhor o mundo. O artista então passou a observar e registrar o entorno do seu quintal e, como já mudou de casa e quintal algumas vezes, a série está sendo periodicamente retomada.

Detalhes do Evento:

Abertura: 2 de agosto de 2024, às 17h

Período: 2 a 29 de agosto de 2024

Horário: Segunda a sexta, das 13h às 19h; sábados, das 10h às 14h

Local: Museu da Escola Catarinense (MESC-UDESC), Rua Saldanha Marinho, 196 – Centro, Florianópolis, SC

Entrada gratuita

Contato: (48) 3664-8136 ou 3664-8110 | eventos.museudaescola@udesc.br

Para mais informações sobre o artista, visite www.soncini.com.br.

O que conduz o olhar na percepção de um artista como Décio Soncini é uma incógnita, como todo processo de criação.

Percepção como algo fugaz, um relâmpago que também reside na memória, naquele desvão da consciência como impulso aferente da sensibilidade, e eferente no impulso motor que conduz o traço.

Rudolph Arnheim em sua obra sobre percepção visual e arte aponta as “forças” na Gestalt não como meras figuras da retórica, porém como impulsos reais, dentre elas a forma como configuração visual do conteúdo, nas palavras do artista realista norte-americano Ben Shan: o desenho é a forma que melhor revela o autor. Por isso o desenho é comunicação direta seja no grafite, seja na goiva do gravador, ele retém a energia do impulso ou a contenção do gesto não como indecisão mas como opção, um respiro no traço, imprime fluxo no movimento ou tensão interna na estaticidade.

Vejo Décio essencialmente como um desenhista, ele pode agregar cor, luz e sombra às suas criações e o faz na medida certa em sua pintura, contudo o traçado básico permanece oculto como obra adrede planejada no embate diário entre ele e o mundo, a estrutura está ali como o filósofo Gilles Deleuze disse, é uma geratriz no código da imanência, pertencendo à essência de seu pensamento.

Assim sendo, se nos debruçarmos sobre suas obras veremos que os detalhes são elementos centrais na composição, atuam com âncoras. Podem ser a construção geométrica nos galhos de uma árvore, o galpão entrevisto na janela, o tecido largado na máquina de costura, o emaranhado no bambuzal, as desconstruções lembrando Escher e Piranesi, a faixa de pedestres rumo à casa.

Se por um lado o detalhe implica realismo existe aí uma contradição íntima – o artista é um romântico ao contar sempre uma história pessoal, porém o faz com maestria ao nos ocultar, nosso olhar desliza sobre os detalhes embora estejam recortados em suas formas, a narrativa falando mais alto aos observadores, ah! Isso me faz lembrar…desse modo se sucedem no leque de temas a máquina de costura familiar, o bambuzal no terreno ao lado, o atelier, as demolições tão comuns na Pauliceia desvairada, o bosque do Museu do Ipiranga, a rua do bairro, o sapateiro e outras tantas.

Ocorre então uma distinção essencial, nós buscamos identificar os objetos sem nos preocuparmos com o fundo, enquanto ele se afasta da tradição clássica e achata os planos numa configuração contínua de um jogo de alternância de formas separadas em seus detalhes particulares, como um grande quebra-cabeça entre a realidade e a memória, bastante explícito na obra “Aqui não é lá”.

E um dia bem cedo, como de hábito o artista vai fazer sua caminhada, sai de casa e na volta no lusco fusco com a casa ainda nas sombras seu olhar se detém sobre o jovem pé de Ipê florido durante a noite, manchas amarelas de curta duração como tudo na vida, e da solidão dos seres e da natureza em seu relacionamento com os homens, quantos parariam um instante para admirar tanta beleza. Naquele mesmo dia no atelier pinta “Impressões em preto e branco revisitado pelas cores”.— Senhores, as fichas estão na mesa, o jogo está feito. Nada melhor que Maurice Merleau Ponty para compreender essa relação íntima entre o visível e o invisível como afirma em “O olho e o espírito”: A filosofia por fazer é a que anima o pintor, não quando exprime opiniões sobre o mundo, mas no instante em que sua visão se faz gesto, quando dirá Cézanne, ele pensa por meio da pintura”.

Walter de Queiroz Guerreiro,

Prof.M.A.

Crítico de Arte (ABCA-AICA)

WhatsApp (47) 99674-6720
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